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"Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem."

( Carlos Drummond de Andrade )


segunda-feira, 21 de março de 2011

Como falar de morte com as crianças

A morte é a certeza mais misteriosa da vida. Essa contradição a torna tão difícil de ser compreendida, que dirá explicada às crianças. Entender como funciona a mente infantil ajuda a ensinar nossos filhos como lidar e conviver com esse tema

Cíntia Marcucci • Ilustrações Ziraldo

Ziraldo

No playground do prédio, Nina brincava com o irmão quando viu os tios chegando. Aí veio seu avô. Ué, não tinha nenhum encontro da família, por que estavam todos ali? Pouco tempo depois pediram para que os dois subissem e foi no quarto dos pais que a mãe e o avô contaram o que acontecera. A avó havia morrido de repente e todos estavam muito tristes. Quando ela viu a mãe ir ao banheiro para chorar, a menina não teve dúvidas: “Mamãe, abre a porta para eu ficar com você. A vovó sempre dizia que a gente não deve chorar sozinho”.
Vilma, a mulher do cartunista Ziraldo e avó de Nina (que tinha 7 anos na época), morreu em 2000. Dois anos depois, a história dela com os netos se transformou em Menina Nina, Duas Razões para Não Chorar (Ed. Melhoramentos). São desse livro, que vai virar peça de teatro (leia mais nesta matéria), as ilustrações desta reportagem. Ziraldo trata a morte de um jeito simples, como criança entende, singelo e bonito. Foi o jeito que o cartunista encontrou de confortar seus netos, filhos, e a si próprio fazendo uma homenagem à mulher com quem passou mais de 40 anos de sua vida: “Músicos fazem um réquiem, os rajás fazem palácios (como o Taj Mahal), os escritores fazem sonetos, eu escrevi sobre ela quando pude”, declarou em entrevista à CRESCER.
Foi a própria Nina que nos contou como foi saber da morte de sua avó. Ainda hoje, 11 anos depois, ela se emociona ao lembrar como foi duro para a mãe e o avô darem a notícia a ela e sofre por não ter mais a Vovó Vivi por perto. Falar de morte com crianças não é mesmo nada fácil. Como a gente pode tentar explicar uma coisa que não entende e que é tão dolorida? Dá uma tentação louca de que nossos filhos não precisem passar por isso, muito menos quando tão novos. Sim, isso já passou pela cabeça de qualquer um que tenha filhos, mas o melhor mesmo é que seja só um desejo utópico. Uma das coisas que todos os especialistas entrevistados para esta reportagem disseram é que, independentemente da idade do seu filho e da situação – se morreu um bicho de estimação, um parente próximo ou um conhecido distante –, não se deve mentir ou esconder o fato das crianças. “As crianças são só crianças, não bobas”, afirma Maria Helena Franco, psicóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre o Luto da PUC-SP.
É difícil dizer o que seu filho entende em cada idade. Diferentemente dos aspectos do desenvolvimento motor, o emocional é mais individual e depende também das experiências de vida de cada pessoa e família. Mas é certo que, mesmo tão cedo quanto aos dois anos, as crianças são capazes de perceber mudanças no clima e nas emoções da casa. Então seu filho vai perceber se você estiver triste, preocupado, ou agindo diferente. “Se os pais escondem da criança que um cachorro ou peixe do aquário morreu, dizendo que ele fugiu ou sumiu, e depois ela vê o bicho morto, ou mesmo ouve uma conversa sem querer, ocorre a quebra da confiança que ela tem em seus próprios pais”, explica Rita Callegari, psicóloga do hospital São Camilo (SP).
A gente também se engana quando acha que nossos filhos nunca ouviram falar em morte. Ela está nos livros infantis, nos filmes – os pais de Simba morrem em O Rei Leão, a Branca de Neve cai em sono eterno ao morder a maçã, os vilões são mortos pelos mocinhos no final –, nas notícias da TV, nas conversas das pessoas na rua. Também está naquele pernilongo que ela vê morto, nas flores que murcham no vaso.
A diferença é que, até por volta dos 6 anos, a criança não entende que a morte é irreversível. “Nessa fase ela não difere fantasia da realidade, acredita que, assim como nos desenhos animados, dá para se levantar depois que cai uma bigorna na sua cabeça”, ensina Julio Peres, psicólogo e autor do livro Trauma e Separação (Ed. Roca). Ele explica que é preciso deixar a criança “brincar de morto”, sem repreender. Isso, somado às pequenas mortes do dia a dia, dos insetos, plantas e pequenos animais, são um bom treino para entender a sequência da vida e facilita na hora de lidar com uma morte de alguém próximo.








Ziraldo

Ilustrações: Ziraldo


Menina Nina no teatro

Peça baseada em livro em que Ziraldo conversa com a neta sobre a morte da avó vira peça e vai rodar por todo Brasil. Em São Paulo, a estreia acontece no dia 19 de março. A CRESCER conversou com o diretor da peça Joaquim Goulaart, a cenógrafa Daniela Thomas e Antônio Pinto, que compôs uma das músicas da apresentação

Cíntia Marcucci

   Divulgação
Os atores interpretando Nina e sua avó

Mais do que uma versão para o teatro, o livro Menina Nina, em que Ziraldo conversa com a neta sobre a morte da avó ganhou uma espécie de releitura pela própria família. Joaquim Goulaart, o diretor, era amigo da Vovó Vivi, a mulher de Ziraldo, e conta que fazer a peça é algo especial na carreira dele. “Minha outra montagem infantil é Cegonha Avião, Mentira, Não! , que fala sobre o nascimento. Eu sempre quis falar sobre a morte e é muito significativo usar a história de uma família tão próxima.” Os cenários ficaram a cargo da cenógrafa Daniela Thomas, filha de Ziraldo, que considera um de seus trabalhos mais difíceis e, ao mesmo tempo, uma homenagem à mãe. “Ela ainda é muito presente. Na verdade, a gente só morre na nossa versão 3D, a outra segue com as histórias e na semelhança de nossos filhos e netos.”

O músico Antônio Pinto, outro filho de Ziraldo, que faz parte do grupo Pequeno Cidadão, compôs uma canção especial para o espetáculo. “É sobre a galinha de biquíni e o galo de cueca, uma história que a Nina tinha com meus pais. Quero que seja uma daquelas melodias que o pessoal sai assoviando.”

A peça está em cartaz no Sesc Pinheiros -SP.


CRÉDITOS: REVISTA CRESCER

Um comentário:

Ana Paula disse...

Realmente é muito difícil falar de morte para uma criança.
Ano passado me peguei em uma situação muito delicada qdo a mãe de uma aluna me pediu q contasse para a menina (Ana Beatriz- 5 anos)q o avô dela havia falecido. Nossa, e agora? Pensei...Com um jeitinho delicado e buscando as palavras coretas, tratei de dar a notícia para a pequena... e qula ñ foi a minha surpresa ao termíno do meu diálogo, ao ouvir a pequenina dizer: "- Tia, eu nunca pensei que meu avô ia morrer." Gente, calei, e vi que as crianças muitas vezes entendem de certas coisas muito mais do que imaginamos.
Hj me aconteceu mais uma vez... ñ pra falar de que alguém havia falecido, mas sim tratar de fazer com q a criança entende q o seu papai, ñ vai mais voltar pra casa... Difícil neh... mas quem disse q nosso trabalho é fácil??? Tem um paradidático infantil que eu gosto muito e trata da morte de uma maneira muito linda e delicada "Júlia tem uma estrela" agora ñ me recordo o nome do autor e nem a editora, mas quem o escreveu tenho quase certeza que estava vivendo a perda de um ente muito queridoÉ uma história muito linda e emocionante... hj eu a li para a minha doce Sofia, que chega em casa da escola na espectativa de encontrar o seu papai esperando por ela.
Parabéns pelo post.
Fica sempre com Deus...
Beijokinhas!!!